quarta-feira, 1 de julho de 2009

Mãe, minha mãe mesmo e meu colégio

V - Direito negado e Literatura

Passam-se alguns meses, provavelmente dois. Aula de Direito, de novo. Estava com muito sono e pertubado por causa das aulas hiper dinâmicas e legais de Direito, então resolvi ler Dom Casmurro (Afinal, havia trabalho de Literatura para fazer sobre) para não dormir naquela monotonia, onde a expansão do Universo é mais rápida que quinze minutos de aula. Alguns minutos depois a professora se aproxima da minha mesa com sua baquetinha. PAH! Porrada na mesa do Gabriel! Fiquei meio que confuso, afinal, que raios essa mulher está fazendo? Atordoado com o barulho da baqueta, vi ligeiramente ela pegando meu livro, resmungando qualquer coisa que não ouvi na hora. Fiquei indignado, dormir na aula dela é liberado, enquanto cultura é negada. Tudo bem, disse pra mim mesmo, não vai dar merda, não vai, no máximo levo uma bronca do coronel, pego meu livro e acaba tudo. Sinal toca, professores trocam.
Entra na sala a professora de Literatura, que eu admiro muito por sinal, com toda sua energia e vontade de dar aula. Professores assim me dão gosto de estudar, por mais que as aulas sejam comparadas ao inferno. Rapidamente pediu para que a turma pegasse as apostilas sobre Realismo que ela dera na última aula, cuja eu faltei. Levantei minha mão, pobre ingênuo, e falei:
- Professora, faltei no dia e não tenho a apostila, a senhora tem alguma para me emprestar?
- Não acredito, Faleiro! Você sabe que não entra na minha aula sem o material, já para fora. E quem está sem apostila também, para fora!
Não briguei. Ela estava certa, oras, eu tinha que ter copiado a apostila ou tirado uma xerox. E algo que me fez admirá-la mais ainda, foi ter mandado quem não tinha falado que estava sem apostila sair. Me demonstrou igualdade - o que eu não vejo a muito tempo.
Indo para a mesa de corredor da inspetora, cujo nome seria anti-ético e imoral eu revelar, para pegar o papelzinho de ocorrência, fui surpreendido com gritos:
- Faleiro! Sabia que ia te pegar, eu disse! Eu disse! Você além de ficar lendo nas aulas de Direito, tem a coragem de ser expulso de sala em Literatura, em um único dia!
- Pelo amor de Deus, inspetora, cujo nome seria anti-ético e imoral eu revelar! Só estava sem apostila, e na aula de Direito, estava lendo para não dormir! Prefiro ler na aula do que dormir!
- Não me interessa! Agora você já era.
Nunca fiquei tão nervoso em tão pouco tempo como esse dia. Minha vontade era de pegar uma Uzi e soltar o dedo na senhora. Me contive, afinal, uma vitória só é apreciada quando se está de cabeça fria.
Voltei para casa, pensando em como tirar essa mulher do meu caminho, que estava simplesmente infernizando minha vida. Me tirando do sério várias vezes ao dia, e sendo tão incoveniente quanto barata numa festa de pijamas de patricinhas. Tive uma boa idéia.


VI - Uma boa idéia

Assim que cheguei em casa, contei tudo o que havia acontecido para minha mãe. Sim, esta foi a boa idéia, porque nada melhor que uma mãe que se irrita facilmente, e que sabe argumentar melhor que noventa porcento da população mundial, os outros dez porcento são políticos (devemos ao menos dar esse crédito a eles, os caras conseguem enrrolar todo mundo direitinho). Ela ligou para o colégio para saber a versão da inspetora, cujo nome seria anti-ético e imoral eu revelar, e depois de quinze minutos, finalmente foi atendida. Conversando com a mulher, percebeu o que eu e mais uns amigos que já se formaram percebemos, ela é da massa. Imagine massa como aqueles que seguem o senso comum, que fazem tudo o que os outros fazem, que falam tudo o que os outros falam. Foi aonde minha mãe pegou para poder fazer a inspetora, cujo nome seria anti-ético e imoral eu revelar, falar a verdade. No final de tudo, a senhora foi até esperta, mandou que minha mãe fosse ao colégio conversar diretamente à ela.


VII - Mãe, minha mãe mesmo e o meu colégio.

Ela merece roubar este título de mim, pois realmente foi a estrela disso tudo. Chegando na secretaria do colégio, minha mãe pedira que ligassem para o meu pavilhão, onde ela teria marcado a reunião com a inspetora, cujo nome seria anti-ético e imoral eu revelar. A secretaria disse que estaria na sala do lado, telefonando. Passou uns cinco minutos e a mulher não voltava de jeito nenhum. Minha mãe deu três passadas para a esquerda, e espiou na janela. Só conseguiu ver a mulher no telefone, falando: "...é né, cada filho com sua mãe...". Pronto, mãe irritada, evacuem a área! A secretaria virou, levou um susto com a minha mãe, e falou bem baixinho: "tudo bem, pode subir.". Eu ri muito quando eu soube dessa parte, sei como é a cara da minha mãe de indignada.
Quando ela chega no pavilhão, não encontra a inspetora, cujo nome seria anti-ético e imoral eu revelar, em lugar algum. Foi então à coordenação, para falar diretamente com o superior dela, o coronel.
Coitado. Ele é uma boa pessoa, só que é acomodado demais, não percebe as porcarias que ele anda fazendo, e tem preguiça de controlar as situações, preferindo ficar dando suspensão em garotos que, por natureza, ficam namorando no intervalo. Havia de chegar a hora dele, como a de todos nós. Minha mãe falou tudo o que você possa imaginar, tudo o que a inspetora, cujo nome seria anti-ético e imoral eu revelar, fazia, fez e deixou de fazer. O coronel ficou calado ouvindo, e só falou algumas encheções de lingüiça (dane-se a reforma ortográfica) e falou que a inspetora, cujo nome seria anti-ético e imoral eu revelar, nunca mais iria fazer algo assim, e também que a partir daquele dia, ela nunca mais iria dirigir a palavra à mim. Quando soube disso, fiquei satisfeito. Mas, na vida, sempre há o algo a mais.


VIII - Notícias rápidas para felicidades eternas.

Ontem, dia trinta de junho de dois mil e nove, recebi uma notícia gigantesca. O colégio está sendo obrigado a demitir todos os funcionários que não são militares, com um prazo de até dezembro deste ano. Não dei muita bola na hora. Mas também não demorou muito para brilhar uma luz no meu cérebro, com uma voz saltitante dizendo, bem lá no fundo: Será que a inspetora, cujo nome seria anti-ético e imoral eu revelar, é militar? Será?
Passei o dia tentando saber. Ninguém sabia me responder. Na saída, encontrei o melhor inspetor daquele colégio, e perguntei pra ele quais inspetores iriam sair ano que vem, afinal, há a ordem de demitir todos os inspetores que não são militares. Foi quando ele me disse alguns nomes que eu nunca ouvi na vida, e por último, ouvi o nome da inspetora, cujo nome seria anti-ético e imoral eu revelar. Não acreditei, pedi pra ele repetir. Dei um pulo de alegria, desci as ladeiras, entrei no ônibus, e sorrindo, dormi. Acordei no ponto certo para eu descer e ir para casa. Chegando em casa, contei a notícia para minha mãe. Ela deu um riso e falou um "se deu bem, hein?!" de algum jeito que eu não ouvi bem.

Bem, só há uma coisa para dizer: A justiça tarda, mas não falha.