quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Isso é coisa de maluco!

Ás vezes eu falo sozinho. Um maluco aí da vida me disse que quem fala sozinho é psicótico, logo depois disso ele me disse rindo que já perdeu a conta de quantas vezes ele se pegou falando sozinho por aí. Me falou isso, mas não me disse se ele se achava psicótico. Bem, eu não me pego falando sozinho, porque simplesmente não falo sozinho sem querer, eu apenas faço. Faço, sei que eu faço e gosto quando faço. Acho que sou psicótico.
Mas não é só a falácia solo que me persegue. Há ainda outras coisas peculiares que apenas eu faço - eu acho - e que eu gosto de fazer, apesar de ser... digamos assim... loucas. Por exemplo: quando eu to entendiado, a minha primeira reação ao tédio é abrir a geladeira e encarar todos os alimentos e bebidas. Não como, nem bebo, apenas os encaro. Fico lá, parado, por minutos, até minha mãe me dar um pescotapa e resmungar qualquer coisa que eu não presto atenção, por estar encarando as coisas da geladeira. Não penso em nada, apenas olho. Acho que meu recorde foram 4 minutos. Mas a minha loucura favorita é na hora de dormir. Eu não durmo como qualquer outro ser humano em sã consciência dorme. Eu tenho todo um ritual perfeito e imaculado para dormir, senão não consigo durmir. Primeiro de tudo, ligar a TV, para só depois desligar a luz. Depois disso, deitar na cama, me cobrir - mesmo com um calor dos infernos - e olhar para a TV. Não assisto, apenas olho. Olho cores e luzes saindo de uma caixa preta. Quando meu olho começa a pesar, eu viro de lado, fecho os olhos e começo a me imaginar fazendo qualquer coisa - sei lá, matando siths com meu sabre de luz - e só então pego no sono. Se eu pular alguma parte, eu não durmo bem, e acordo mal humorado.
"Seu Maluco!" é uma frase que eu ouço com frequência aqui em casa. Já me acostumei, e até concordo. Existem milhares de outras coisas que eu faço que nenhuma pessoa normal faria por aí.
Loucos ou malucos, doidos ou pirados, todos possuem manias, não há escapatória. E aí? Qual é a sua?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Anônima

Faces irreconhecíveis em meio de passos apressados, passando por seus olhos com rapidez e emoções aleatórias. Rostos sem nome, olhando para o horizonte, sem qualquer destino - apenas seguindo seus próprios pés.
Os donos dessas faces pertencem ao seu dia-a-dia, sem você ao menos perceber. É ele que te dá o troco do ônibus, o que entrega sua pizza, o que passa por você nas ruas. Para eles, você também é apenas mais um na multidão, um anônimo. Ele provavelmente nunca lembrará de você, do seu rosto, do seu olhar. Até porque, quem lembraria de uma pessoa que nem um bom dia lhe dá?
Lá estava ela, atrás de um balcão de lanchonete, servindo a outras pessoas aleatórias que nunca mais a veria, inclusive a mim. Pedi um pastel, e ela o me entregou junto com um guardanapinho. Ainda que tenha sido por alguns segundos, ela havia me olhado nos olhos, havia me notado, mas logo em seguida voltou a anotar pedidos e entregar os mesmos. Entre pedidos e entregas, ela se voltava pra minha mesa, e me olhava intensamente, e eu não parava de olhar para ela. Parecia um jogo de olhares, onde quem ganhava era quem pegava o outro olhando o outro. Não pude deixar de notar em seus cabelos ondulados, presos em rabo de cavalo. Suas mãos grossas, feridas pelo trabalho, e sua pele morena. Provavelmente ela também observara em meu paletó cinza, e também nos meus óculos escuros, presos no bolso do paletó.
Terminei meu lanche, e pedi a conta. Fui pagar no caixa, onde ela se encontrava no momento. Assim que eu lhe dei o dinheiro contado, ela me olhou pela última vez, e eu a ela. Foram os dois segundos que mais duraram na minha vida.
Dei as costas e saí da lanchonete. Tinha voltado a minha rotina normal, com rostos anônimos passando direto por mim. Na semana seguinte voltei para a mesma lanchonete, pedir o meu pastel, na esperança de rever o rosto que havia visto na semana passada. Quando olhei para o balcão, vi dois homens e nenhuma mulher.
Foi nessa hora que eu percebi o quão estúpido e idiota eu fui.