segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Carta

Ao senhor escritor do texto anterior,
Com todo respeito, o que o senhor anda fumando? Pelo amor de Deus! Eu nunca atravessei um deserto na minha vida, seu maluco. A maldita torre simplesmente está do lado da minha casa. Da onde você tirou que aquela louca é uma princesa? O único motivo para eu ter ido até a torre, era para pedir que ela abaixasse o volume daquela porcaria de funk, que ela ouvia e ouve vinte e quatro horas por dia. E eu nunca me encantei com a sua "delicadeza" de movimentos, apenas fiquei pasmo de como uma mulher pode usar um short tão curto e rebolar tão vulgarmente. Ah, sim, não sou cavaleiro e nunca serei, aquilo era uma fantasia de papelão feita para a festa surpresa do meu filho de nove anos de idade, seu louco da vida. Não me leve a mal, caro escritor, mas o senhor precisa de um psicólogo.
Com muita raiva,
"cavaleiro" do post anterior.

PS: Torre de vidro?!?!

sábado, 5 de setembro de 2009

Torre de Vidro

Tirando o pesado capacete, enfim havia chegado. Depois de meses enfrentando tempos imprevisíveis e ferozes, desertos congelantes e florestas escaldantes, lá estava, de pé, olhando fixamente para a torre. Era uma torre alta, altíssima. Mas não era uma torre comum. Suas paredes eram peculiares, tamanha era sua estranheza que assustara o cavaleiro. Ela não havia cor, era totalmente pálida e lisa, muito lisa. Era tão incolor que parecia que se enxergava o que havia dentro dela, como um vidro. Chegou bem perto da parede, colocou as mãos entre o rosto e a torre e nada via.
Passando-se alguns segundos, ouviu risos bem baixos, vindos de uma voz doce e suave, do alto da torre. Afastou-se e circulou a torre até encontrar alguma janela, para ver a silhueta de sua donzela. Se admirou com a delicadeza de seus movimentos, a cada pirueta de sua alegre dança, o coração do cavaleiro batia fortemente. Gritou por sua princesa, e por mais que tentasse, sua voz não chegava até o topo.
Tomado de coragem, resolveu entrar na assustadora torre. Embainhou sua espada, levantou seu escudo, e encarou seu grande portão. Deu um passo para trás. Sua garganta secou, sua testa transpirava. Hesitava.
Cada vez mais que via o sorriso da princesa, no meio de sua dança, de suas risadas e de seus cantos, ficava mais amargurado com sua própria vida, como se não merecesse estar ali. Passou-se horas, e lá estava ele, inconformado e indeciso. Colocou seu capacete, montou em seu cavalo e voltou para sua terra.
Sua donzela não estava presa, estava liberta. Liberta de um mundo onde seres humanos não são humanos. O cavaleiro, tomado de toda honra e de toda glória que lhe vinha como prefixo ao nome, estava preso. Acorrentado em um mundo vicioso e cíclico, em um mundo onde princesas não existem, e cavaleiros são desprezados. No nosso mundo.